Há certos tipos de pessoas que não se suportam: os arrogantes, os invejosos,
os que pensam que são superiores, etc. Não gostamos deles, mas convivemos com
eles porque assim ditam as regras sociais. Mas há um tipo de gente que nem sequer
respeito: os que se recusam a ser dadores.
Acho que é a prova maior da pequenez moral de uma pessoa. Para mim
simplesmente esta pessoa não vale nada. Como é que alguém é capaz de se recusar
a ajudar outro com um pouco de si. E quando me dizem que só dão sangue ou medula se conhecerem
a pessoa que precisa, fico furibunda. Que grande altruísmo!
Mas destes, os piores são aqueles que dizem que se recusam a doar órgãos
depois de mortos. Em vida, ainda me podem vir com a história que têm medo de
injecções (mas queria ver se fosse o filho deles a definhar numa cama de
hospita,l se não queriam que todos superassem os seus medos para lhe salvar a
vida). Agora quando se está morto, acabou tudo. Não precisamos de mais nada,
porque afinal, tudo vai apodrecer. Não sentimos dor. E podemos salvar uma ou
muitas vidas. E não há melhor forma de morrer do que fazer renascer outra vida.
Há pessoas que se dizem muito generosas mas depois só o são quando não custa
muito: quando não têm que se deslocar ao hospital, quando não têm que suportar uma pica.
Não há melhor exercício do que colocar-nos na pele dos outros, para repensar as nossas prioridades e argumentos. Mas há pessoas que só conseguem pensar quando realmente passam por elas, e às vezes até mereciam que ninguém lhes estendesse a mão...