domingo, 16 de abril de 2017

Dos dias de Páscoa


Ao longo dos anos, a Páscoa foi perdendo significado para mim. Emigrada nesta grande cidade, quase me esqueço que a época pascal está à porta, ou não fosse eu bombardeada pelos supermercados com longos corredores com ovos de chocolate. Pareço uma velha a falar, mas a verdade é que a minha Páscoa está marcada por cheiros, sons e sabores que não consigo reencontrar nos recantos desta cidade.

Nem irei falar da Páscoa da minha infância, que tinha como momento máximo a procura de ovos pela casa, com um singelo cesto de vime no braço. A Páscoa cheira a fumo de chaminés nas aldeias. Tem uma ânsia generalizada de dar as boas-vindas à primavera, com a limpeza das casas e o refrescar das pinturas. Tem o amassar das massas dos folares, de forma vigorosa, à mão, na amassadeira de madeira. O cozer dos folares nos fornos à lenha. O encontro de pessoas à volta destas tradições, e da partilha de folares. Tem o som do sininho do padre pela aldeia para que todos possam receber Jesus em casa. É o calcorrear das ruas para as visitas à familiares. É o ir à missa, a visita de padrinhos e madrinhas. É o cheiro a cabrito assado na forma de barro no forno de lenha. É tudo o que fui perdendo e que sei que não voltarei a encontrar. A solução: criar novas tradições, mas há um fio que me prende a este passado, ainda muito recente, que me deixa sempre um pouco nostálgica.

Boa Páscoa!

1 comentário:

Liliana Pereira disse...

Igual por aqui... tenho saudades da Páscoa. Saudades do reencontro da família e do da passado na aldeia à espera do compasso. Tenho saudades e uma imensa pena de não viver essa Páscoa com os meus pequenos.