segunda-feira, 20 de junho de 2011

Filho é ADN ou Amor?


Desde sempre a adopção fez parte dos meus planos. Ao longo dos anos amadureci este projecto de vida, e hoje espero poder adoptar uma criança, além de ter um filho biológico. Existem tantas crianças no mundo a necessitar de amor, porque não lhes dar uma oportunidade? Respondem-me que adoptar é difícil, que nunca sabemos o feitio que a criança vai ter, os seus traumas, os problemas de saúde genéticos que pode ter. Não sei se estarei errada, mas um filho biológico também é um bilhete de lotaria, a um nível diferente certo, mas não deixa de ser uma surpresa. Pode sair de nós, dos nossos genes, mas uma criança é mais do que um banco biológico. Nunca sabemos a pessoa em que se vai tornar um filho biológico, apesar do nosso amor e da educação que se lhe incute. Tenho noção que educar uma criança adoptada é difícil, mas educar uma biológica também o é. Tantos casos de vagabundos filhos biológicos de pais extraordinários...

E depois é um contrasenso. Se adoptar uma criança é uma dor de cabeça, porque é que a sociedade (as mães biológicas) tendem, mesmo que inconscientemente, a fazer as mães adoptivas sentirem-se «menos mães»? Segundo os próprios argumentos não deveriam ser mães de coragem?

E depois tenho aversão a que me digam «nunca se pode amar um filho adoptado como se ama um que sai de nós». Percebo que é carne da nossa carne, sangue do nosso sangue, fruto de um amor incondicional entre um homem e uma mulher. Por isso mesmo gostaria muito de ter um filho biológico. Mas o amor vai além disso. E não me digam que digo isto por nunca ter sido mãe. Porque a relação de amor que nos une não advém do sangue, mas do companheirismo, da amizade, da união. Se não, nunca ninguém iria amar de verdade o seu companheiro. Esta questão faz-me lembrar uma parábola de Jesus que dizia «é fácil amar os seus, difícil é amar os seus inimigos». Pois, é fácil amar o ser que nos sai das entranhas. Difícil é amar um ser perdido, fruto de outro amor, sangue de um desconhecido. O amor (entre pais e filhos, entre homem e mulher, ...) é algo superior. E acredito que o amor incondicional não esteja acessível a qualquer um de nós...

* Escrevi este post a pensar muito na minha vivênvia mas também num casal amigo que já luta há mais de 10 anos para engravidar: tratamentos dolorosos, tentativas falhadas, economias e créditos gastos, etc. Mas não seguem para adopção por causa da família e amigos que são apologistas deste tipo de conversas...

18 comentários:

Sairaf disse...

Este texto é sem dúvida uma chapada de luva branca à quem não sabe amar para além dos seus.
Cada vez gosto mais deste canto, tão sincero e frontal nas suas palavras.
Abraço doce Dina
Sairaf

Anónimo disse...

Bato palmas a este teu post! Excelente, excelente, excelente!
E subscrevo tudo, sem tirar nem por, o que disseste. :)

Um beijo grande!

teardrop disse...

Para mim filho é amor... E, se por alguma razão da vida, não conseguir ter filhos meus, gostaria de adoptar. Ainda muito nova dizia que não encontrasse ninguém, ainda assim teria um filho. Apesar de ter encontrado o homem certo para ser pai dos meus filhos, continuo a pensar assim. Vamos ver o que o futuro me reserva!
Beijinhos

Anónimo disse...

Eu e o F. também começamos a pensar nisso a sério. Já temos um filho biológico e agora gostávamos de partir para a adopção, precisamente pela mesma razão - há tantas crianças a precisar de um lar, de uma família. O F. é professor e têm alunos que vivem em instituições e dá dó saber as histórias pelas quais estes miúdos já passaram.Eu digo sim à adopção.

Alminhas disse...

Este assunto tem que se diga... Vou preparar um post sobre o assunto... Concordo plenamente contigo Dina! Graças a Deus que o amor e a educação não provêm dos genes!! Vêm sim da vida e do saber/querer dar. O amor não se pede, dá-se! E há tantas crianças que precisam de amor... Elas dão-nos tanto...
Beijinhos:)

madeMOIselle disse...

Infelizmente acho que o aqui vai muito mais longe. estamos perante casos de pessoas que não conseguem ser felizes porque são demasiado quadradas, porque têm quadros de referência internos demasiado limitados e quando surge qualquer desvio (por mínimo que seja) que as obrigue a desviar da rota traçada, ergue-se um impedimento (por vezes eterno) à felicidade e realização. Acontece com pessoas que não podem ter filhos e que não querem adoptar, com pessoas que não se querem divorciar por têm os estigma do divorcio, com pessoas que não querem assumir compromissos porque têm o estigma da liberdade, com pessoas que não conseguem assumir a sua sexualidade porque não se conseguem libertar de preconceitos estúpidos...enfim. Existe um conjunto de situações que põe à prova a flexibilidade normativa das pessoas que que infelizmente provam muitas vezes que nem quando esta em causa a realização pessoal e a felicidade as pessoa são capazes de mudar.

Dina disse...

Mademoiselle: acho que dizestes tudo ;)

Um brasileiro disse...

Oi. Tudo blz? Estive aqui dando uma olhadela e lida. Muito interessante. Gostei. Minha resposta: Se você pode, são os dois. Apareça por la. Abraços.

Nokas disse...

Acabaste perfeitamente...o amor incondicional não é para todos...

Anónimo disse...

se tiver possibilidades, tb gostava de adoptar uma criança um dia, sempre tive esse desejo...

M.M. disse...

Eu trabalho na área da adopção... sei que nem todas as crianças são iguais, mas aquelas com quem convivi até hoje são sedentas de amor, de uma família... e acima de tudo muito meiguinhas. Também há os irrequietos e "problemáticos", mas tal como tu dizes um filho biológico também o pode ser!!
Conheço muitos casais que viram na adopção uma forma de concretizarem o sonho de serem pais... acho que é uma excelente alternativa a quem não pode ter filhos... um filho é um filho independentemente dos genes que possa ter. Um dia também irei adoptar um, tenho a certeza! :)

MakingMoney disse...

Concordo com tudo o que escreveste, mas deixa-me agora contar-te uma história.
E quando uma mãe de um jovem já adulto, adoptado quando tinha 3 anos, continua a dizer à boca cheia que o maior desgosto da vida dela é nunca ter tido um filho biológico?
O que dirias sobre isso?

Su disse...

Se calhar em toda a sua "absurdidade" o mundo até faz sentido:
Uma mulher que faz diferença entre filhos biológicos e adoptivos ou que acha que uma mãe adoptiva não é uma boa mãe, nunca adoptará. E ainda bem! Porque essa de facto nunca seria uma boa mãe adoptiva.
Assim como uma mulher que não adopta por causa do que os outros pensam, também nunca deve adoptar. Porque não tem a força necessária para defender o filho contra tudo e todos caso algum dia seja necessário. (Aqui peço desculpa por fazer juízos de valor sobre a sua amiga, mas não consigo pensar doutra forma).
Quem não faz diferenças deste genero, será sempre uma boa mãe adoptiva, independentemente do julgamento dos outros.

Nokas* disse...

Adoptar é ser mão de coração e a 100%, sem reservas, com dedicação total. É um filho. E por isso deve dar-se tudo o que se pode para fazer daquele nosso ser uma pessoa ainda mais feliz.

Dina disse...

MakingMoney: Compreendo perfeitamente essa mulher, desde que nunca diga isso perante o filho adoptivo. Ter pena de não ter tido um filho biologicamente não significa que não ame muito o seu filho adoptivo.

Su: Não peças desculpas. Sabes, nunca pensei nisso neste sentido. E acho que tens toda a razão. Se enquanto adulta responsável não consegue fazer frente aos outros, realmente é porque ela não conseguirá defender o seu filho. Obrigada, acho que me fizestes reposicionar quanto à esta minha amiga...

CS disse...

Partilho desse sonho desde muito nova. Tenho um casal amigo que adoptou um ano passado uma menina de 7 anos. Ela é linda e está rodeada de tanto, tanto amor. Quero muito fazer o mesmo e apesar de estar a passar por uma gravidez, adoraria (mais do que nunca) adoptar.
Estou a torcer por ti, pelos filhos biológicos que virão e pelos de coração que já existem e que estão apenas à espera de um colo de mãe e pai.
Beijo cheio de carinho

MakingMoney disse...

Dina: Julgo (ou melhor espero) que ela nunca tenha dito isso em frente ao filho de facto, mas receio que seja mais grave do que isso. Porque se ela não se sente totalmente preenchida como mãe, ao fim de 17 anos, não achas que o filho inevitavelmente se vai sentir disso? Chocou-me, quando soube, continua a chocar-me todos os dias, de cada vez que penso nisso.
Sou a favor da adopção, eu que já tenho 3 filhos, adorava adoptar mas arrepia-me este tipo de sentimentos.

Verita disse...

Já te disse que adoro o teu blog? :))

És Fantástica!!