terça-feira, 11 de março de 2014

Do trabalho


O meu local de trabalho é representativo do que se vive(u) em Portugal.

Estou numa empresa de privilegiados: grandes costumes, grandes manias, grandes egos, mas quando se vai retirando camadas, apercebe-se que é tudo podridão. Pessoas com a mania da superioridade que ficam chocados quando sabem que sou filha de trolha e femme de ménage, que sou transmontana e afins.

Pessoas que ganham imenso dinheiro e que não têm competência para metade e que vêem mal o facto de uma miúdo chegar e colocar em risco posições ancestrais.

Mas queria falar de outra coisa. Este mês ainda não recebi ordenado. Irrita-me porque esta é a contrapartida que espero do meu empenho e dedicação. Mas não vivo com a corda ao pescoço. Consigo aguentar-me e conseguiria aguentar-me mais. Porque sempre me preocupei em ter uma almofada. E continuo a minha vida como sempre, sem grandes preocupações.


Quando oiço pessoas a contar-me que já têm conta a negativo, que foram familiares a pagar contas de supermercado, e que não têm um tostão mais, fico indignada, principalmente quando se trata de mães com  filhos pequenos a depender delas. Como é possível viver com a corda ao pescoço desta forma? Até quando se tem ordenados bem  acima da média (cerca de 4000 mil euros mensais). Não entendo tamanha irresponsabilidade, porque são as primeiras a queixar-se da crise quando a maior crise que existe é na cabeça desta gente…

quinta-feira, 6 de março de 2014

Resolução


Agora vou chocar aquelas mulheres cuja maternidade é sempre Fantástica. Eu preciso do meu espaço como do ar que respiro. Adoro o meu filho, mas estou a chegar ao ponto em que parece que perdi totalmente a minha vida, que tudo e todos mandam mais no meu rumo do que eu.

Estou cansada: calhou-me um homem “pai-galinha”. Eu sou super cuidadosa com o Simão, principalmente no que diz respeito à alimentação, sono e gero o meu dia-a-dia sempre a pensar no seu bem-estar. Mas há limites. Não podemos comer isto ou aquilo por causa do pequeno.Tenho que bater o pé, se não o pequeno continuaria com uma alimentação de quem tem seis meses: nada de sandes ao lanche, nada de especiarias, nada de iogurtes líquidos, etc. Não podemos andar de avião. E depois não quer deixar o pequeno a ninguém nem que seja durante duas ou três horas (mas queria mandá-lo à mãe durante uma semana a mais de 500km para a deixar contente). Desde que o Simão nasceu, tivemos uma tarde a dois. Uma e porque eu insisti. Propôs-lhe irmos ao Rock In Rio este ano. A minha mãe vinha cá passar uns dias e ficava com ele uma noite. Não quer.


Então é simples, este fim-de-semana vou eu sozinha fazer tudo o que me apetece. Vou ao cabeleireiro, vou almoçar fora, vou descansar e ler, vou às compras, ao cinema, tudo. Ainda não lhe comuniquei tal facto, mas está mais do que decidido.

terça-feira, 4 de março de 2014

Do Carnaval


Quem me conhece há largos anos, sabe que sempre odiei o Carnaval. Este terror vem-me do pré-escolar em que no primeiro desfile me mascararam de coelhinho branco. Fiquei traumatizada. Odiei a experiência. Nos anos a seguir ficava doente nestes dias, e os meus pais tiveram o bom senso de nunca me obrigar a nada. Nunca fiz nada para marcar a data a não ser crepes (la Chandeleur). Nunca fui a uma festa na faculdade, nada.

Agora tenho um piralho de 20 meses. Não fala para me pedir nada. Mas escolhi-lhe um fato de pirata porque achei que ele ia gostar. E delirou com a fatiota e com a espada claro.

Houve quem me dissesse que sou incoerente: se não gosto de Carnaval eu não deveria mascarar o pequeno.

Há pessoas que não percebem que mãe e filho são duas individualidades diferentes. Eu não gosto. Mas ele tem culpa por eu não gostar? Se ele gostar e se sentir bem mascarado, serei a primeira a promover isso. 

Mas ao primeiro sinal de desaprovação, também serei a primeira a parar com a brincadeira. Porque também não concordo em obriga-los a nada, a escolher por eles a máscara que mais gostamos. São seres livres. Por isso nunca o forcei a tirar fotografias com o pai natal (eu que queria fazer uma montagem dos primeiros cinco anos). Mas que mãe seria eu em não o mascarar: ele só se sentiria excluído da brincadeira do grupo. E a minha única missão enquanto mãe é fazer dele uma criança feliz e que se sinta bem com ele próprio.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Novos paradigmas


Para os pais, a sesta dos mais pequenos torna-se num mundo de sonhos. Mal deitamos aquele anjinho (diabólico) na sua cama, desejamos-lhe umas longas horas de sono descansado. Porque afinal a hora da sesta é a única em que podemos ter vida própria. O problema é que a sesta é sempre demasiada curta para fazermos tudo o que desejaríamos fazer: ler um página do romance em silêncio, acabar de arrumar a cozinha em paz, ver aquele filme que já saiu no cinema há 10 meses atrás, tratar das unhas, fazer xixi sem companhia…


Existe uma lista tão grande de afazeres que perdemos logo metade do tempo disponível em pensar naquilo que gostávamos mesmo de fazer. E depois se estivermos à espera que o pequeno acorde para sair, bem, ele vai dormir horas. Se quiserem um tempinho sossegado, vai dormir meia hora…