O meu local de trabalho é representativo do que se vive(u) em
Portugal.
Estou numa empresa de privilegiados: grandes costumes,
grandes manias, grandes egos, mas quando se vai retirando camadas, apercebe-se
que é tudo podridão. Pessoas com a mania da superioridade que ficam chocados
quando sabem que sou filha de trolha
e femme de ménage, que sou
transmontana e afins.
Pessoas que ganham imenso dinheiro e que não têm
competência para metade e que vêem mal o facto de uma miúdo chegar e colocar em
risco posições ancestrais.
Mas queria falar de outra coisa. Este mês ainda não recebi ordenado.
Irrita-me porque esta é a contrapartida que espero do meu empenho e dedicação.
Mas não vivo com a corda ao pescoço. Consigo aguentar-me e conseguiria
aguentar-me mais. Porque sempre me preocupei em ter uma almofada. E continuo a
minha vida como sempre, sem grandes preocupações.
Quando oiço pessoas a contar-me que já têm conta a negativo,
que foram familiares a pagar contas de supermercado, e que não têm um tostão
mais, fico indignada, principalmente quando se trata de mães com filhos pequenos a depender delas. Como é
possível viver com a corda ao pescoço desta forma? Até quando se tem ordenados
bem acima da média (cerca de 4000 mil
euros mensais). Não entendo tamanha irresponsabilidade, porque são as primeiras
a queixar-se da crise quando a maior crise que existe é na cabeça desta gente…