Desde sempre a adopção fez parte dos meus planos. Ao longo dos anos amadureci este projecto de vida, e hoje espero poder adoptar uma criança, além de ter um filho biológico. Existem tantas crianças no mundo a necessitar de amor, porque não lhes dar uma oportunidade? Respondem-me que adoptar é difícil, que nunca sabemos o feitio que a criança vai ter, os seus traumas, os problemas de saúde genéticos que pode ter. Não sei se estarei errada, mas um filho biológico também é um bilhete de lotaria, a um nível diferente certo, mas não deixa de ser uma surpresa. Pode sair de nós, dos nossos genes, mas uma criança é mais do que um banco biológico. Nunca sabemos a pessoa em que se vai tornar um filho biológico, apesar do nosso amor e da educação que se lhe incute. Tenho noção que educar uma criança adoptada é difícil, mas educar uma biológica também o é. Tantos casos de vagabundos filhos biológicos de pais extraordinários...
E depois é um contrasenso. Se adoptar uma criança é uma dor de cabeça, porque é que a sociedade (as mães biológicas) tendem, mesmo que inconscientemente, a fazer as mães adoptivas sentirem-se «menos mães»? Segundo os próprios argumentos não deveriam ser mães de coragem?
E depois tenho aversão a que me digam «nunca se pode amar um filho adoptado como se ama um que sai de nós». Percebo que é carne da nossa carne, sangue do nosso sangue, fruto de um amor incondicional entre um homem e uma mulher. Por isso mesmo gostaria muito de ter um filho biológico. Mas o amor vai além disso. E não me digam que digo isto por nunca ter sido mãe. Porque a relação de amor que nos une não advém do sangue, mas do companheirismo, da amizade, da união. Se não, nunca ninguém iria amar de verdade o seu companheiro. Esta questão faz-me lembrar uma parábola de Jesus que dizia «é fácil amar os seus, difícil é amar os seus inimigos». Pois, é fácil amar o ser que nos sai das entranhas. Difícil é amar um ser perdido, fruto de outro amor, sangue de um desconhecido. O amor (entre pais e filhos, entre homem e mulher, ...) é algo superior. E acredito que o amor incondicional não esteja acessível a qualquer um de nós...
* Escrevi este post a pensar muito na minha vivênvia mas também num casal amigo que já luta há mais de 10 anos para engravidar: tratamentos dolorosos, tentativas falhadas, economias e créditos gastos, etc. Mas não seguem para adopção por causa da família e amigos que são apologistas deste tipo de conversas...