Muito se tem falado da geração à rasca. O que penso é que o grande problema não reside na instrução da nossa geração, mas na educação. Afinal muitos são filhos cujos pais têm esta máxima «quero dar tudo o que eu não tive ao meu filho». Errado, profundamente errado.
Em casa, havia um ordenado de trolha e outrode uma senhora das limpezas. Nunca me faltou comida, brinquedos quanto basta e tudo o que tivesse a ver com a minha formação. Nunca deixei de ir a um passeio da escola ou de comprar um livro recomendado. Os meus pais não eram ricos, mas também não eram pobres. Mas nunca me deram tudo. Desde cedo, aprendi a dar valor ao trabalho deles, e que na vida não se pode ter tudo. E sempre, desde muito cedo, tive que tomar as minhas próprias decisões e assumir as minhas responsabilidades. Ensinaram-me a lidar com frustrações e problemas da vida. Telemóvel só quando precisei e fui estudar para fora, portátil igual, etc.
Hoje em dia, estamos a criar crianças demasiado protegidas, que não estão preparadas para lutar, porque sempre tiveram tudo de mão beijada. Os meus pais sempre me auxiliaram, mas como num ninho de pássaros, deram-me asas para eu voar sozinha. Custa-me olhar para o meu vizinho à rasca e vê-lo com a mais recente tecnologia, um carro semi-novo, roupa nova... e continua em casa dos pais porque não se pode assujeitar a um ordenado de 600 euros. Eu vim de Trás-os-Montes com mala às costas, sem conhecer esta cidade, para começar a trabalhar por 500€. Arrisquei para lutar pela minha vida, e hoje tenho menos que estes rascas, porque tenho prioridades.
À rasca estarei quando passar fome, ou tiver que deixar de comer isto ou aquilo, para pagar a prestação da casa. A rasca estarei quando tiver que deixar os comprimidos na farmácia porque a reforma de uma vida não me permite um tratamento digno. À rasca estiver quando for para um país de que não percebo a língua, passando a fronteira a pé, para dar um futuro aos meus filhos...
Sim à uma melhor remuneração e estabilidade laboral para licenciados. Mas também nem todos podemos ser Doutores. E pais e mães deste país, pensem que mimar demasiado os meninos nem sempre é ajudá-los. É preciso desde muito cedo ensiná-los a serem adultos responsáveis.