Chega a noite e com ela os seus tormentos. Sinto a solidão das paredes e o vazio do meu coração. Mas a pior solidão é aquela que sinto quando estou rodeada de pessoas. É estranho como se pode estar embrenhada numa conversa, a sorrir e sentir-se ao mesmo tempo tão distante e sozinha. Por vezes, sinto-me um invólcuro, uma casca vazia a quem foi retirado o seu melhor.
Por vezes, sinto que sou apenas uma marioneta guiada por mãos invisíveis, um autómato que executa as suas tarefas já programadas, sem pensar muito nelas. Sinto-me literalmente vazia. Um vazio que deixou de doer mas que incomoda. Sinto o eco do meu coração a apelar à vida e à paixão. Mas o vazio continua. Por vezes, parecemos dois estranhos lá por casa: dois seres vazios. Mas sei que sou eu que não o deixo que preencher-me. Há momentos em que não sei se o quer, se algum dia o poderá preencher. É como viver em piloto automático: sou um carro descontrolado mas que avança devagar e que não quer ser manobrado. Essa letargia é horrível. Quero acordar para a vida, para o amor, para o quotidiano. Mas é difícil. Às vezes penso que vou enlouquecer. Estou farta que me digam o que devo sentir, como, quando. Que me digam que devo sorrir. Que me acusam de não chorar em certas circunstâncias.
Olho para mim ao espelho e vejo duas faces: metade de mim morreu e a outra metade chora a que partiu. Mas ambas continuam a sorrir e a manter a aparência... Sinto o meu corpo amputado, este silêncio dentro de mim, a ausência, o peso dos dias que passam...